17 de agosto de 2013

A favela é a cidade. A cidade é a favela.

Todos os sábados pela manhã, teremos postagens no blog do Jornal O Cidadão, feitas diretamente pelos alunos do II Curso de Comunicação Comunitária que acontece no Ceasm, aos sábados de 10h as 16h.

Por Rociclei da Silva


Desde seu surgimento, a favela sempre foi vista como algo não pertencente à cidade, apesar de sempre estar viva e pulsante no coração das grandes cidades. Mesmo sendo determinante e indispensável para o desenvolvimento da cidade, a favela sempre foi tratada como algo pernicioso que precisa ser expurgado da cidade. A lógica sempre foi de separação, de cisão para afirmar as dicotomias: riqueza e pobreza, ordem e desordem, civilização e marginalidade, segurança e criminalidade etc. E assim reafirmar a relação casa grande e senzala. O escravo por mais que gere riqueza para o senhor, nunca deixará de ser escravo. O que precisa ser feito é romper com essa lógica escravagista. dominadora. A lógica das duas cidades e fazer a favela parte da cidade, como ela verdadeiramente é, e dessa forma promover a integração e cerzimento da cidade. Porém, sem a expulsão do favelado, principalmente nos territórios de grande valorização.

É dentro dessa lógica de separação de territórios que se faz a homologação, a imposição e dominação de um território sobre outro. O território civilizado e rico (o asfalto) se impõe ao território marginalizado e pobre (a favela). Os valores, a cultura e a civilização do asfalto tornam-se superiores, e, portanto, legitima-se a favela como subalterna e por essa razão necessita de cultura, valores e significações. Porém, valores, cultura e significação vinda e impostas pelo asfalto. São os modos de vidas e valores do senhor e da casa grande ditando, impondo e homologando a senzala.
Foto por Francisco Valdean



Mas fica um questionamento: quais instrumentos de controle e modelização são utilizados pela classe dominante para exercer induzir, influenciar e condicionar? Existem vários, no entanto, a comunicação, sem sombra de dúvida é o grande aliado das elites. A grande imprensa sempre reforçou, aos longos de décadas, preconceitos e estereótipos em relação às comunidades pobres construindo a imagem de lugar marginal. Na mídia hegemônica, favela é sinônimo de inferno e pobreza significa ausência de cultura. Então denegrir a imagem não é o bastante, é preciso impor modelos, ditar regras, formas de pensamentos, culturas e linguagens. Assim, a dominação se dá por completo. Este é o papel dos meios de comunicação: trabalhar para legitimar as ideias da sua classe. O comportamento coletivo é produto das influências midiáticas.

Eis a importância da comunicação comunitária. Uma comunicação que vem de dentro para fora, é a favela por ela mesma. É a comunicação comprometida com a comunidade feita através da participação comunidade. Seu grande mérito está em possibilitar as comunidades expressar e expor seus problemas sem manipulação. É a democratização da comunicação e da informação, alternativa à grande mídia de massa. A comunicação comunitária ao enaltecer e valorizar a cultura local quebra a visão estereotipada das favelas como fábrica de miséria e violência imposta pela mídia hegemônica.

Sem nenhuma dúvida a favela deriva de relações violentas de poder sobre a vida, mas ela também é um potente território de resistência, criação e produção. As favelas criam continuamente novas formas de vida, novas significações, novas linguagens, formas comunicações que se produzem por hibridizações comuns nesses territórios e hoje tão desejados pelo capital que tenta captá-las e torna-las novos produtos e negócios.

A favela resiste e não quer mais ser margem. Quer ser parte da cidade com direitos iguais aos outros territórios. Resiste ao recusar a remoção, ao recusar o habitat disciplinar, ao recusar a homogeneização cultural e o enobrecimento da cidade. A favela resiste e luta porque ela é a cidade, porque ela pulsa e constrói a cidade. Suas edificações, modestas ou não, representam histórias, vidas, culturas e tem valor e significados. É um mundo, é vida e não pode ser apagado, destruído ou removido, mas sim reconhecido como mundo e não submundo. Como disse Célio Turino: “os silenciados querem ser visto e se fazer ouvir e sempre há pontos que resistem”. E eu digo: “os silenciados cansaram de esperar para ver. Querem ser protagonista na história da vida”.

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