18 de agosto de 2013

Cracolândia na Maré

Crack e outras drogas são casos de saúde pública e não de segurança

Por Gizele Martins
(Matéria publicada no Jornal Brasil de Fato)
Foto: Notícias Uol


Quem passa hoje pela Avenida Brasil acha que a Cracolândia que se encontrava próximo às passarelas 9 e 10, na Zona Norte do Rio de Janeiro, acabou. Mas está tudo apenas maquiado. Há um pouco mais de quatro meses, a Prefeitura fez uma operação para retirada dos mais de 500 usuários que circulavam e moravam próximo à pista. Mas a Cracolândia só mudou de local. Ela está agora dentro das ruas do Conjunto de Favelas da Maré. E os usuários continuam sem qualquer tipo de tratamento de saúde pública. Muitos deles, ao atravessar as pistas, continuam, por exemplo, morrendo atropelados pelos carros.

Para Marcelo Oliveira, fotógrafo e morador da Maré, nada foi pensado para a melhoria das condições de vida destes usuários de crack. “Nada foi feito no sentido de solucionar o problema. O que acontece é uma espécie de choque no sentido de desconcentrar os usuários", disse. Ainda de acordo com ele, "quem passa pela Avenida Brasil pode ter a falsa impressão de que a questão foi resolvida, mas os usuários ainda continuam lá, só que transitando ou nas imediações da via", afirma o fotógrafo.

A também moradora da Maré, Gabriela Souza, concorda com Marcelo, ela diz que as viaturas que estão instaladas hoje no local onde se encontravam a Cracolândia, demonstram uma falsa mensagem de que o caso foi resolvido. "Não há nenhum usuário visivelmente aglutinado onde estão os policiais e os guardas, eles apenas transitam por fora da Maré. A maioria está dentro da favela. E isto só será resolvido quando a Prefeitura passar a tratar este caso como saúde pública e não como segurança pública. Eles não são o problema, o problema é a falta de políticas que atendam eles. Pois, eles não precisam apenas de abrigos e comida, precisam de tratamento físico e psicológico", conclui. 

No final do ano passado, quando estes usuários ocuparam as pistas da Av. Brasil, o caso virou notícia em todas os jornais e telejornais da cidade. Todos os dias os helicópteros dos telejornais mostravam os usuários correndo pelas pistas fugindo da Prefeitura. Agora que eles não estão mais visíveis tudo caiu no esquecimento. Douglas Fernandes, morador da Maré, explica que no início este fato só virou notícia porque existe a preocupação dos governantes em mostrar para fora do país que a cidade que vai ser sede dos Megaeventos não sofre problemas. "Os nossos governantes não querem que a imagem do Rio fique queimada perante os turistas e investidores estrangeiros. E só em tirá-los da Av. Brasil, para eles, o caso já está resolvido porque não fica visível para quem chega e vai para o aeroporto", fala.

A Cracolândia da Maré surgiu no final do ano passado depois da invasão da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas de Manguinhos, Mandela e Jacarezinho, locais em que se encontravam grande número de usuários de crack e de outras drogas. Logo depois da permanência da UPP nestas três favelas, também localizadas na Zona Norte do Rio, os usuários caminharam para a Av. Brasil, próximo à Maré. Ficaram meses na Av. Brasil, depois da operação da Prefeitura eles ficaram espalhados e se encontram agora dentro das favelas da Maré

O Vereador Renato Cinco, que há poucos meses abriu a CPI da Internação Compulsória, em suas entrevistas sempre afirma que a Prefeitura tem utilizado o combate ao crack como pretexto para reprimir às populações de rua. "Não há nenhum interesse da Prefeitura em realmente tratar essas pessoas, tanto que os recolhidos estão sendo colocados em estabelecimentos que não fornecem tratamento", finaliza. O que significa que a única preocupação dos governantes é a de mostrar que a cidade está organizada. Eles tiram o que eles chamam de problema dos lugares visíveis e deixam que se aglomerem em outros. 

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