Texto por Fábio Nogueira, escritor do Fazendo Media
Depois de severas críticas sobre a conduta fora de controle de sua tropa militar, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mostrou como e onde o Estado trabalha com mais poder e força: Nas favelas.
Há dez dias testemunhamos uma nação indignada com seus políticos e seus meios de controle social. A Polícia Militar vomitou sua violência contra manifestantes que exigiam um país mais justo. As ações do governo estadual foram condenadas por todos, até pela mídia que então chamava os manifestantes de Vândalos. Contudo, a moral estava em baixa e o governador queria mostrar serviço junto ao secretário de segurança e resolveu soltar todo ódio da polícia dentro do complexo da Maré, onde um policial morreu e dez pessoas foram mortas. Quatro delas não tinha nenhuma ligação com o tráfico.
Alguma novidade até então? Somente para o leitor que vive fora das favelas, morros e periferias cariocas, que não tem ideia sobre como esses moradores são tratados por nossos governantes: sem direito a nada. O artigo 5º da constituição federal não se aplica a essa parcela da população, que não vive sequer com os básicos que qualquer ser humano deve por direito ter. Isto é uma síntese do que acontece em outros lugares carentes do Brasil. O mais assustador fica por conta daqueles que estavam protestando na AV. Presidente Vargas, pois a maioria apoiava as atitudes violentas da polícia dentro das favelas. Aí pergunto: será que o tal “gigante” acordou mesmo? Será que estamos reproduzindo o discurso de uma classe burguesa, cuja sua arma de controle social é o aparato militar?
Foto da uol
Não quero ficar decepcionado com essa onda de protesto que circula no país, mas ao mesmo tempo boa parte da sociedade é insensível à violência policial dentro das favelas e morros em geral. Não me venham dizer que estou defendo bandido e desejando a morte de policiais, mas são “comuns” os abusos da corporação que é considerada umas das mais violentas do país.
Há anos o Estado tenta de várias formas domesticar e conter as “feras” existentes nessas favelas, e dar satisfações a outros poderes políticos e formadores de opinião do nosso Estado. Lembremos que o Rio de Janeiro é o espelho para todo o país, nesse sentido para uns o caveirão tem dado certo e a tendência é todos os Estados adotarem esse modelo. Para quem não sabe, o caveirão foi usado no antigo regime racista da África do Sul para reprimir e matar os negros. Alguma semelhança com as favelas do Rio? Para um bom entendedor, sim.
Na quinta passada (27) estava eu mais sete pessoas debatendo sobre o assunto, e cinco delas acharam corretas as operações realizadas no Rio. Ouvi perplexo os argumentos, e depois perguntei onde todos moravam. Os cincos ficaram calados. Detalhe importante, eu estava debatendo com universitários que lidam com o lado social da situação. Aí, vem a pergunta: que tipos de formadores de opinião estão formando as nossas universidades brasileiras? Será que formaremos apenas pessoas preocupadas com os canudos para expô-los nas paredes?
Vale destacar que ao falarmos de favelas, estamos ao mesmo tempo nos referindo a uma maioria negra com baixo grau de estudo e expectativa de vida. Porém, muitos bons brasileiros falam que o problema não está na cor, e sim no social. É fugir do debate.
O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, co-autor do livro Tropa de Elite, é taxativo no assunto: “Esse quadro já não é novidade para quem estuda o assunto, mas traz uma reflexão urgente. Há 20 anos estamos vendo esse cenário se repetir. E é isso que o torna cada vez mais grave porque sabemos quem são as vítimas, mas não somos capazes de ajudá-las, de rever estas estatísticas”, lamenta o antropólogo.
Outros estudos vêm afirmando tudo isso. Mas, quem vai querer saber sobre quem mais morre nos morros e favelas? E poucas vozes oriundas desses lugares ousam falar sobre o assunto.
Penso que uma verdadeira mudança no país só vai ocorrer quando o morro e a favela descerem para dizer BASTA!!
Ótimo artigo. Discordo, porém, da última frase. Penso que uma verdadeira mudança aconteceria quando as favelas e periferias não descerem nem forem para o centro. Porque aí a sociedade pára. Nada funciona sem as mãos dos pobres. Nada.
ResponderExcluir"Penso que uma verdadeira mudança no país só vai ocorrer quando o morro e a favela descerem para dizer BASTA!!",
ResponderExcluirNa última eleição as pessoas pediam dinheiro para colocar uma placa na casa, ou uma "vantagem" para votar"....ora, acham que o Dinheiro sai de onde?
Não espero o dia que as pessoas invadam a cidade. Espero o dia que as pessoas saibam o que estão fazendo quando votam.