7 de abril de 2013

Anjos de Realengo: Dois anos se passaram

Anjos de Realengo: Dois anos se passaram

Por Gizele Martins
Fotos: Gizele Martins
Dois anos se passaram e tudo continua sem resposta. A escola Tasso da Silveira, localizada em Realengo e que sempre será lembrada pelo massacre que tirou a vida de 12 crianças em abril de 2011, hoje se encontra limpa, bonita, com muros pintados e grades novas. Mas será que a vida dos estudantes e dos familiares que perderam suas crianças também está assim, limpa, bonita e bem tratada pelo Estado?

Durante todo o dia deste domingo 7 de abril, falas e lágrimas dos familiares, amigos e vizinhos mostraram que não. Não foi garantido o necessário atendimento psicológico para cada vítima sobrevivente e familiar. Ainda não se debateu o suficiente, não se formulou, portanto está longe ainda de se implementar o que seria uma política pública adequada de segurança nas escolas. E os parentes dos jovens que morreram no massacre aguardam até hoje que o Estado realize, por exemplo, uma campanha de desarmamento. 



 
Pela manhã, por volta das 9h, a Igreja Nossa Senhora de Fátima, também localizada no mesmo bairro, lotou. Eram mais de 500 pessoas orando, cantando e se emocionando. Era um abraço coletivo, e com palavras de apoio mútuo. Logo depois da missa, essas mesmas pessoas saíram em passeata, as crianças levando nas mãos balões com os nomes das vítimas. Chegando à escola, flores, cartazes e velas foram deixadas diante do muro, no qual jovens grafiteiros expressaram a dor de todos por meio da sua arte. 

Essas famílias não estão sozinhas. Mais de mil pessoas passaram pelos protestos e homenagens realizados neste domingo em memória dos 12 anjos. Durante todo o dia, amigos e apoiadores como Marcelo Yuka, Tânia Lopes e militantes de diversas partes da cidade passaram pelo local. Carlos Santiago, pai de Gabriela Prado Maia Ribeiro, de 14 anos, morta em uma troca de tiros que ocorreu na estação de metrô em 2003, também no Rio de Janeiro, e que fundou o Movimento 'Gabriela Sou da Paz' esteve presente e deixou o seu recado parabenizando a coragem destes familiares. 
"A gente vem acompanhando a luta deles durantes esses dois anos, há muito ainda o que se fazer em relação à segurança nas escolas. As mães e os pais de Realengo têm feito esse trabalho. A gente percebe essa cobrança por parte deles à Prefeitura, ao Estado, para que os colégios tenham mais segurança, mais rigor e saber quem entra e quem sai das escolas. Eles estão de parabéns por todo esse movimento. Tenho certeza de que o mais importante para quem perde um filho é a coragem de continuar lutando, transformando a dor em luta, é isto que faz com que a nossa dor seja amenizada", disse Santiago.

Enquanto o muro era grafitado, por volta das 15h, foi realizada uma carreata por membros da Igreja Batista Betânia. O presidente do Motoclube dos Pregadores do Caminho e pastor Renato Castro falou sobre a homenagem: "Quando me ligaram aceitamos logo o convite. Elas falaram que era um movimento em prol da paz, e se é da paz e para ajudar movimento delas a gente apoia".
Logo depois da carreata, que contou com cerca de 40 participantes, cerca de 500 motociclistas também prestaram a sua homenagem com uma espécie de "abraço" com suas motos circulando em torno da escola. Para terminar o dia de homenagem e de protestos, foi passado o filme 'Os Armados', exibido para mais de 50 pessoas na Igreja Presbiteriana em frente à escola, com depoimento das mães e dos pais das crianças, de autoridades parlamentares e de estudiosos sobre o tema do desarmamento.

Durante todo o dia, o maior pedido de todos os que passaram por ali é de que a dor, a luta e o fato não caiam no esquecimento. Que as famílias dos anjos de Realengo conquistem o abraço e a coragem do povo em geral para juntos enfrentarem o desafio da conquista de escolas mais seguras para os seus filhos.


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