Fiocruz inicia testes para controlar a doença
Por Eliano
Félix
Uma das doenças
que tem preocupado não só os moradores da Maré mas, do país inteiro, é a
dengue. Por isso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está realizando método de
vacinação do mosquito da dengue, utilizado em outros países, onde principal
função é imunizar o mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença.
O Cidadão
entrevistou Luciano Moreira, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e
líder do projeto “Eliminar a dengue: Desafio Brasil”.
O Cidadão - Gostaríamos de saber como é
esta descoberta e teste de
"vacinação" do mosquito da dengue?
Luciano Moreira - Trazido
ao Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o projeto ‘Eliminar a
Dengue: Desafio Brasil’ utiliza a bactéria Wolbachia para bloquear a
transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes
aegypti de forma natural e
autossustentável. O projeto integra o esforço internacional sem fins
lucrativos do Programa ‘Eliminate Dengue: Our Challenge’ (Eliminar a Dengue:
Nosso Desafio), que testa o método na Austrália, Vietnã, Indonésia e, agora,
Brasil.
A
pesquisa demonstrou em laboratório que, quando é introduzida no Aedes aegypti, a bactéria
Wolbachia, presente em 70% dos insetos na natureza, atua como uma ‘vacina’ para
o mosquito, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do inseto. Como
consequência, a transmissão da doença é impedida. A Wolbachia é uma bactéria
intracelular e não existem evidências de qualquer risco para a saúde humana ou
para o ambiente.
O
método de controle é baseado na soltura programada dos mosquitos com Wolbachia,
que, ao se reproduzirem na natureza com mosquitos locais, passam a Wolbachia de
mãe para filho através dos ovos. Com o passar do tempo, a expectativa é de que
a maior parte da população local de mosquitos tenha Wolbachia e seja incapaz de
transmitir dengue.
OC - Como está a pesquisa no momento?
L.M - Atualmente, equipes de Entomologia de Campo e
de Engajamento Comunitário atuam em quatro localidades nas cidades do Rio de
Janeiro e em Niterói que estão em estudo para futuros testes de campo, com a
soltura de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia. Estamos confiantes de
que esta estratégia científica inovadora possa de fato contribuir para,
futuramente, abrir uma nova alternativa de controle da dengue, baseada no
bloqueio do vírus dentro do Aedes aegypti, cooperando assim para a
melhoria da saúde da população.
OC - Em que bairros estão sendo
realizados os testes?
L.M - As equipes de Entomologia de
Campo e de Engajamento Comunitário, que atuam nos Bairros de Vila Valqueire,
Grajaú e Tubiacanga, no Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niterói, contam com o
apoio de um grupo de especialistas em modelagem matemática, que desenham
modelos dedicados a prever a dispersão dos mosquitos na fase de soltura. Estas
equipes realizam os trabalhos de campo semanalmente nas áreas estudadas. Os
mosquitos de cada localidade, estão sendo analisados com base da captura em
armadilhas especiais, que estão instaladas nas residências de moradores
voluntários, os ‘anfitriões’ do projeto”. “A transparência junto aos moradores
é uma prioridade. Por isso, esforços têm sido dedicados a garantir a informação
e esclarecimento dos parceiros locais.
OC - O que é feito após a captura do
mosquito?
L.M - Nos
Laboratórios da Fiocruz, os mosquitos Aedes aegypti coletados nas
localidades estudadas são cruzados com mosquitos com Wolbachia importados da
Austrália com a autorização do IBAMA. Estes mosquitos se reproduzem a partir de
um processo chamado ‘backcrossing’, dando origem a ovos que nascem naturalmente
com Wolbachia. Os primeiros resultados comprovam o sucesso da experiência e os
novos ovos são armazenados para testes futuros. Os mosquitos serão estudados
para verificação da sua capacidade de se reproduzir com os mosquitos locais,
gerando populações de mosquitos com Wolbachia e, portanto, incapazes de
transmitir a dengue. Após a aprovação regulatória junto aos órgãos competentes,
serão realizados os testes em campo, que consistem na soltura de Aedes
aegypti com Wolbachia nas áreas estudadas.
OC – Qual
a recomendação da Fiocruz para a Maré e os bairros vizinhos visando a prevenção
do mosquito da dengue?
É necessário que todos
estejam mobilizados para impedir que o mosquito Aedes
aegypti
chegue a sua fase adulta, pois só o adulto transmite dengue, porque só o
adulto (na prática, apenas a fêmea) se alimenta de sangue. Vale ressaltar que o
mosquito transmissor da dengue vive e se reproduz dentro das nossas casas. Do
ovo até o mosquito adulto são aproximadamente 7 a 10 dias. É importante
destacar que o controle da dengue também depende de educação, de consciência
sobre cidadania. O mosquito que nasce no meu quintal pode ser o responsável
pela transmissão da doença ao meu vizinho. E vice-versa.
Por isso, alguns cuidados básicos em
relação aos reservatórios de água são fundamentais para o controle do Aedes,
vetor da dengue: tampar bem caixas e tonéis de água, desentupir ralos e calhas
que possam acumular água, jogar fora pneus velhos, evitar deixar garrafas e
recipientes que possam acumular água da chuva em área descoberta e virá-los de
cabeça para baixo, eliminar pratinhos com água embaixo dos vasos de planta,
além de bandejas de geladeira e de ar-condicionado que também podem se tornar
criadouros do mosquito da dengue. Por isso, é
fundamental a mobilização popular agindo na limpeza de criadouros. Assim, é
possível interferir no desenvolvimento do vetor, impedindo que ovos e larvas se
transformem em adultos.
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