O comunitário é fruto do curso sobre Educomunicação realizado no ano passado no Morro do Preventório, em Niterói
Por Rafael Lopes
Fotos: Gizele Martins e Rafael Lopes
Com o objetivo de mostrar o dia a dia da favela, um grupo de dezesseis simpáticas meninas lançou no último sábado, dia 27 de abril, o 'Ainda Não Pensei'. O jornal comunitário do Morro do Preventório, localizado na Zona Sul de Niterói. O impresso é fruto da oficina de educomunicação do Grupo Paiol Cultural, que aconteceu no final do ano passado.
“Muitas pessoas aqui não pensam sobre saneamento. Têm outras coisas que precisam melhorar. Existe gente que não liga para isso. A gente quer o melhor para comunidade. O nome do jornal é para isso, para que todos pensem os problemas”, comentou Pamela Sebastião sobre os bastidores da produção do jornal e o que ela acredita poder fazer : mudar o pensamento de todos os moradores do Preventório.
Uma das coordenadoras do projeto, a jornalista Jéssica Santos, conta que a ideia surgiu a partir do projeto de leitura crítica, realizado pelo Sesc Niterói, em parceria com o Paiol Cultural e o Banco Comunitário do Preventório, em novembro do ano passado. Segundo ela, com a turma já formada, foi mais fácil colocar a ideia em prática.
“Trabalhamos sempre pautados no desenvolvimento da consciência crítica e a autonomia dos sujeitos envolvidos nos projetos. Inicialmente, a publicação será de três em três meses e contará com quatro páginas. Na Grota (favela vizinha) também já existe jornal. Queremos, com o tempo, colocar em atividade outros meios de comunicação, como o rádio, por exemplo”, disse Jessica.
Durante o evento, a roda de palestra debateu a importância da comunicação comunitária como construção da identidade favelada. Aideia é que todos participam do processo de produção, sem que um indivíduo se destaque do grupo. Um dos convidadospara o bate papo foi, Pedro Martins, membro da Associação Mundial das Rádios Comunitárias (Amarc), apontou a força do rádio como instrumento de comunicação capaz de produzir o efeito de organizar rapidamente as pessoas.
“A rádio tem papel muito importante, não é à toa que os poderosos, no Brasil, querem uma lei que restrinja nosso direito de fazer rádio, de fazer tevê. Acontecendo alguma coisa, você consegue se comunicar na hora. Durante as tragédias das chuvas da região serrana, o veículo mais importante foi a rádio comunitária de Friburgo. Ela foi fundamental para salvar vidas, funcionado 24 horas”, explica Pedro.
A editora do jornal “O Cidadão”, do Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio, Gizele Martins, falou sobre os desafios e alegrias de se fazer o jornal.
“Os moradores da Maré tinham vergonha de falar que moravam lá, sempre se diziam moradores de Bonsucesso ou Penha. Nós ousamos em cunhar o termo mareense. Após muitas lutas, contribuímos para essa identificação. O comunitário é uma forma de dar voz aos moradores para reclamarem sobre falta d’água, falta de energia elétrica, para eles mostrarem também as histórias de luta e vida, de cada cidadão que faz parte daquele lugar. A força da comunicação comunitária está exatamente nisso, criar laços”, lembra a jornalista orgulhosa pelos mais de dez anos de publicação do jornal que circula nas 16 favelas da Maré.
Depois dessa conversa sobre comunicação comunitária, a galera do Morro do Preventório cuidou da parte cultural. Teve muita música e muita dança, além do bazar que funcionou durante toda a tarde de lançamento com a ideia de arrecadar grana para a impressão dos próximos exemplares.
Entrevista completa no link: http://migre.me/elWbp
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