21 de janeiro de 2013

Lançamento do mais novo cd do Rapper Fiell: Pedagogia da Dominação


Por Gizele Martins

"Pedagogia da Dominação" é o mais novo CD do também escritor, cineasta e comunicador comunitário, Emerson Cláudio dos Santos, mais conhecido como Fiell, morador do Morro Santa Marta, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro. 

O lançamento deste mais novo álbum vai ser na próxima quarta-feira (23), às 19h, no Bar do Zé Baixinho, Santa Marta. 

Segundo Fiell, este CD é mais um meio de comunicação para falar da luta do povo, do dia a dia do trabalhador, além de mostrar um pouco como toda esta história de dominação sobre a maioria do povo foi organizada, montada, construída. Leia abaixo o bate-papo com Fiell, saiba um pouco mais do CD e do que pensa esse músico que vem fazendo história de resistência pelas favelas cariocas.

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Como surgiu a ideia de fazer esse novo CD e quantos você já lançou?

Em 2003, lancei meu 1º cd: Mundo Cão. Em 2006, lancei o 2º cd: Arbitro da Própria Vida. Estou na cultura hip-hop desde 1999 cantando. Sou adepto desde 1996. 

A ideia desse novo cd: PEDAGOGIA DA DOMINAÇÃO surgiu da realidade que vivemos. Conta um pouco da história que pertence a todos nós brasileiros, como o assalto que os portugueses e europeus fizeram no nosso país em 1500.

O hip-hop, a música, tem um papel muito importante na nossa vida. E num passado muito recente, eu fui contaminado pelo o vírus do rep e estou até hoje contaminado por ele tentando fazer diferença.

Como foi o processo de pensar os temas, as músicas, as letras? E como você decidiu o título do CD?

No hip-hop, temos essa peculiaridade de escrevermos as nossas próprias músicas. Muitas das vezes no rep, retratamos o que acontece com cada um de nós. O que acontece na favela, na cidade e no país. 

Neste novo CD, trago música não só minha, mas de outros grupos: Bonde da cultura, Proreprua, Mister Zoy, O Levante, Marcelo Yuka. 

Fiz uma coisa que nos outros dois últimos cds não fiz. Coloquei uma música que se chama: 'Rap é Música', do parceiro Vinimax. A letra e a produção é dele. Gosto muito desse som, e pedi para ele disponibilizá-la em meu novo trabalho. Além disso, Vinimax produziu duas outras músicas para mim.

Decido o título lendo as histórias do Brasil, do nosso estado, da nossa favela, percebi como os dominantes nos conduzem ao genocídio coletivo da memória. Eles, os dominantes (Capitalistas), querem que nós desde crianças, já na escola, acreditemos que quem descobriu o Brasil foram os portugueses. E que a Favela é reduto de marginais. Que preto é ladrão, dentre outros esteriótipos.

Depois que tive clareza de como se mantém a maioria (Os Trabalhadores) controlado através da mídia, das leis. Com isto, lancei o meu livro DA FAVELA PARA AS FAVELAS. Depois, bebi do vasto conhecimento do monumental intelectual Paulo Freire. E foi das leituras de Freire que eu escolhi o titulo deste 3º cd: PEDAGOGIA DA DOMINAÇÃO.

Quanto tempo durou a produção de 'Pedagogia da Dominação'? 

Não é fácil lançar um cd com qualidade musical e de forma autônoma. Desde 2006 que venho produzindo este álbum. O beat da faixa 6 do cd, foi produzido com o Dj Boneco, em 2006. Quando eu ainda morava em Jacarepaguá.

O beat da faixa 4: 'Abonime o crime', foi produzido em 2010 pelo Dj Saci. Todo os beat's do álbum foram produzidos em parceria, não paguei nenhum beat. Tem produção de Dj: Tony – Di, de SP, Mister Zoy RJ, Vinimax RJ, Eletrobase, Dj Criolo.

Com isto, só tenho a agradecer a todos os produtores que acreditaram no meu trabalho. Também ao Marcelo Yuka e Tomas, que abriram as portas do estúdio para eu materializar o álbum. 

Agradecer também ao Caio Amorim que fez a parte gráfica. Também agradecer a Maria Buzanovsky que fez todas as fotos do álbum. Alex Cury, que fez a iluminação nas fotos. Agradecer a geral que fortalecem meu trabalho sempre. 

Desde 2006, venho produzindo. E fechei o cd, em Janeiro de 2013.

E o tema favela, comunicação comunitária, resistência, está presente também neste CD?

Claro, é o tema central do CD. Pois é aqui que moro com minha família e amigos. E é aqui que pretendo morrer. O rep, a música é uma comunicação comunitária. E costumo falar que o rep, o funk, são os primeiros veículos jornalísticos da favela.

Faço música de protesto. Nada nesta sociedade está bom, a não ser para os capitalistas. Existe uma farsa que a mídia empresarial ajuda a manter. Eles afirmam que o povo pode consumir, o que para eles, isso se significa cidadania. O que discordo, pois o povo trabalhador assalariado não tem casa própria, não tem saúde de qualidade e não estão nas universidades, isto não é cidadania. Não podemos trocar cidadania por consumismo. São duas coisas distintas. 

Tudo que falo é resistência a esse sistema econômico capitalista que massacra e assassina nosso povo sofrido.

Qual a mensagem você quer passar para a galera que vai ouvir o seu novo CD? O que eles podem esperar desse seu novo trabalho?

Este cd é diferente, não é melhor do que os dos outros reps. Neste álbum, retrato o que está acontecendo na favela, na cidade e no país. Acho que a música não pode ser só música.

Mesclo a música com política. Pois tudo que melhora ou piora nas nossas vidas passa pelo tema da políticas. Portanto, se eu não aproveitar minha arte, o microfone para alertar o meu povo das armadinhas do sistema, sempre iremos ter uma qualidade de vida precária.

Tenho responsabilidade social e sei que minha música levará comportamentos para os jovens e adultos. Portanto, não posso falar besteira. E o público pode esperar um estilo de música de muita luta, de muita reflexão e de resistência neste novo álbum 'Pedagogia da Dominação'. Não perca!

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