3 de novembro de 2011

Hoje é o dia da favela. Grande dia, não!?

Para muitos Favela é sinônimo de violência, preguiça e outras coisas mais...

Por Gizele Martins
Foto Francisco Valdean

A favela virou moda. É verdade sim, ela virou moda. Na verdade, ela sempre foi um grande espetáculo para os telejornais, jornais, seja lá qual mídia for. Mas é certo também que ela sempre esteve nas páginas mais sangrentas. Só, só nestas páginas, mais nada! Afinal, a favela, segundo esta sociedade capitalista neoliberal, é sinônimo de violência, de violência e violência!!! E não para por aí.

O que não é por acaso. É preciso criminalizar quem mora nela. Já que apenas parte desta sociedade pode neste sistema dominar, ter direitos, ser considerado gente! E para esta parte, nós favelados precisamos sumir, não podemos sequer existir. É, por isso, que não temos direito à educação, à saúde pública, à segurança, à moradia, dentre diversos outros direitos. O nosso único direito, na verdade, é o de sermos escravos desta minoria.

O maior problema é que eles dominam tudo mesmo. Conseguem até fazer com que a gente negue a si próprio, negue e criminalize a nossa própria identidade. A nossa própria cultura, história, vida. Eles fazem a gente se sentir burro, preguiçoso e até criminoso.

Sim, é verdade! Qual o favelado que nunca ouviu isto? Que nunca ouviu que quem mora na favela é criminoso, é burro e que nunca estudou porque não quis ou não se esforçou o bastante!? Certa vez, sentada no sofá da minha casa, ao lado da minha querida avó de 60 anos, ouvi a seguinte frase: "É, Gizele, eu não estudei porque não quis. Fui preguiçosa e hoje sou empregada doméstica porque eu escolhi!".

Vocês acreditam nisto? Tem gente que vai ler este texto e vai até concordar com ela. Mas eu na mesma hora a questionei e falei: Mãe, a senhora teve que trabalhar com que idade? durante toda a minha vida só vi a senhora trabalhar. A senhora é preguiçosa mesmo? Ela respondeu: "Ah, Gizele, trabalhei desde criança. Quando eu fiz 20 anos meu marido morreu e criei meus filhos sozinha, mas nunca deixei de trabalhar. Eu chegava na escola e dormia, e aí desisti".

Enfim... ela achava mesmo que escolheu esta vida. Que era preguiçosa e tudo mais. Mas é este o recado que recebemos a todo o tempo. As pessoas, a sociedade nos coloca sempre como um problema, como culpados por apenas existirmos. E a maioria não percebe que não somos este tal problema, mas sim que o que vivemos é a consequência desta estrutura de mundo, de capital, de riqueza concentrada nas mãos sujas de poucos, de diferença social.

E, para fechar este texto em homenagem ao "dia da favela", este lugar que virou moda e, até mesmo, local de exploração financeira para alguns, digo que favela é Resistência. E quem vai valorizar e passar o recado de que a minha avó, por exemplo, e todos os outros mareenses e moradores de favelas são guerreiros é a mídia alternativa, a mídia comunitária. Aquela feita pelo povo e pelos amigos e defensores do povo! A outra mídia está fazendo o papel dela e bem feito, e nós precisamos e devemos fazer o nosso! Comunicação Comunitária é direito e dever humano!!! Somos favelados, resistentes, temos cultura, somos gente! Queremos direitos!

2 comentários:

  1. É preciso se dar conta de que os mais pobres são os que constróem o mundo. É só olhar em volta, em qualquer lugar das cidades, das estradas e de onde houver seres humanos, e tudo que os olhos alcançam foi colocado ali por mãos pobres, alfaltos, cimentos, postes, encanamentos, eletricidade, paredes, tudo, tudo foi colocado por mãos pobres. E é conservado, mantido e sustentado por pobres - o grosso dos impostos é arrancado deles pela alta taxação dos produtos básicos, o volume é maior que o de todas as empresas juntas. A maioria é usada, explorada, enganada, sabotada e ainda por cima é desprezada, perseguida e convencida da sua própria incapacidade, subalternizada num processo criminoso de convencimento midiático e social imposto pela minoria dominante, que precisa eliminar nossos direitos para manter seus privilégios. O inimigo está também dentro de casa, na televisão, nos convencendo de mentiras com sorrisos, usando conhecimentos de psicologia da mente e do comportamento. É preciso acordar, despertar nossa consciência e nossa dignidade, é preciso percebermos nosso valor real. Ninguém precisa reconhecer nosso valor mais que nós mesmos. Não precisamos de líderes ou doutrinas - precisamos é de consciência, e pra isso o fundamental é abrir bem os olhos, observar a diferença entre o que é e o que nos dizem e perceber como distorceram a realidade em que acreditamos. As correntes da atual escravidão foram construídas com mentiras. Desacreditando nas mentiras, quebramos as correntes.

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  2. Favelado não é burro, e nem ignorante
    e sim, escravizado a todo instante.

    Trecho de rap do repper Fiell 2012.

    Tamos juntos Gi...

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