Por Ramon Araujo
A eleição presidencial brasileira será um divisor de águas para a América Latina. Não é à toa que a elite mais conservadora está tão desesperada, direcionando todas as forças para a candidatura do Serra (PSDB). A mídia burguesa, os setores conservadores da Igreja Católica e das Igrejas Evangélicas, os diversos grupos racistas de nossa sociedade estão desempenhando um papel fundamental para garantir o conservadorismo no Brasil. Porém, não é somente o Brasil que está em questão. O que está em jogo é processo contra-hegemônico em curso na América Latina.
O que está ocorrendo em alguns países latino-americanos pode marcar definitivamente o rumo da história para a esquerda mundial. Estamos presenciando um embate entre a elite branca colonizadora e exploradora e os grupos que sempre foram submetidos a essa exploração. Estamos vivendo um período em que o imperialismo se encontra ameaçado pelas forças populares. Não é algo menor que passa diante de nossos olhos. É a retomada com muito mais vigor dos movimentos de libertação que foram brutalmente reprimidos em toda a história do nosso continente.
O fracasso econômico, político e teórico do neoliberalismo abriu a porta para uma nova era. As políticas sociais e econômicas, pautadas nas teorias neoliberais, sugeridas pelos grandes centros do capital para as nações da América Latina caíram por terra. Os acordos entre o FMI – Banco Mundial e os países latino-americanos claramente não deram certo para a maior parte da população destes países. As privatizações das empresas estatais representaram um retrocesso à soberania das nações latino-americanas. Tratados comerciais como o NAFTA proliferaram ainda mais a miséria em países como o México.
Por isso, estamos presenciando a retomada das bandeiras populares, a emergência de movimentos sociais, vitórias de governos de centro-esquerda, debates sobre questões teóricas importantes. Isso tudo que está ocorrendo é uma nova etapa histórica que se abre. Movimentos sociais e governos que se afirmam com uma nova consciência histórica de passado, presente e futuro; com uma nova concepção ecológica, de desenvolvimento, de sustentabilidade, de cultura, de ciência etc.
Não é à toa que temos na Bolívia um presidente indígena e socialista, que foi levado ao poder por fortes movimentos indígenas (que não se colocam mais como indígenas, mas como povos originários). Não é à toa que tanto lá como no equador foram outorgadas Constituições Plurinacionais, que reconhecem a autonomia, a língua etc. de todos os povos desses países. Não é à toa que vemos na Venezuela um presidente socialista, que se empenha no sucesso da integração bolivariana. Governos e movimentos sociais que se dizem antiimperialistas, se posicionando contra a exploração imposta historicamente pelos colonizadores hispano-lusitanos, ingleses, estadunidenses, com o apoio da elite latino-americana, que mesmo depois de ter proclamado as independências continuou com a síndrome eurocêntrica e estadunicêntrica, a ponto de estufar o peito para se declarar os europeus da América. Forças de esquerdas essas que estão pensando num projeto a longo prazo de soberania nacional e integração continental. Soberania que necessita da integração
E é aí que entra uma das diferenças entre um governo PSDB e um governo PT. Por mais que nos oito anos de governo Lula as transformações sociais esperadas por boa parte da esquerda tenham passado a largo de serem alcançadas, as relações com os nossos hermanos foram muito boas. O que seria da Bolívia no caso da nacionalização do Gás se ao invés do Lula (PT) estivesse no governo alguém do PSDB? Qual seria a postura do governo brasileiro frente ao golpe de Honduras se ao invés do Lula (PT) estivesse no governo alguém do PSDB? O que seria da relação entre Brasil e Venezuela se ao invés do Lula (PT) estivesse no governo alguém do PSDB?
O que assusta mais a elite branca, conservadora e racista é este movimento contra-hegemônico que se desenvolve na América Latina. Ainda mais para a elite do nosso país que detêm o monopólio dos meios de comunicação – a principal arma para manter consenso – e que está vendo um ataque frontal a esse monopólio se desencadeando no continente.
Nesta luta anti-colonial e antiimperialista que está em andamento na América Latina a integração continental será importantíssima para a garantia das soberanias nacionais. Nesta integração continental o Brasil ocupa um espaço central, pois além de ser um país de dimensões continentais, fazendo fronteira com quase todos os países da América do Sul, seu PIB tem uma importância considerável, sua condição de país amazônico é extremamente importante em termos de recursos naturais e biodiversidade, sua população é quase 50% da população total da região, etc.
Qual será a posição do PSDB, caso ele ganhe, em relação à Venezuela, ao Equador, à Bolívia, à Cuba? Se o PSDB ganhar teremos a direita com a cara da Revista Veja no poder, e isso será uma derrota muito maior para os processos populares que estão acontecendo no nosso continente do que para o próprio Brasil. Não compartilho com a análise otimista e ingênua do grande sociólogo Emir Sader em relação às eleições de 2010 de que a “esquerda teve o melhor resultado eleitoral de sua história”. Porém, a vitória de Serra seria um golpe nefasto para os processos antiimperialistas e anti-coloniais que vem se desenvolvendo na América Latina.
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