27 de julho de 2010

Chacinas são relembradas no Rio

Mães fazem manifestação na Candelária, centro do Rio

Por Alex Ferreira
colaboração: Gizele Martins


17 anos da Chacina da Candelária e 20 anos da Chacina de Acari 

Em tom de indignação, dor e revolta misturados a uma imensa saudade, as "Mães de Acari" junto a outras mães que lutam há anos por justiça neste país, se reuniram na noite do dia 22 de julho em frente à Candelária, centro do Rio de Janeiro, para relembrar o sequestro das onze pessoas (jovens na maioria) que ocorreu em 1990, em um sítio de Magé na região metropolitana da cidade carioca. 

Na manhã seguinte, dia 23, mais de duas mil pessoas participaram da missa realizada na Igreja da Candelária, seguida de uma linda caminhada que saiu da Candelária até a Cinelândia. Esta foi feita para lembrar outro momento de tristeza e dor, os 17 anos da "Chacina da Candelária".

Na tarde do dia 25, domingo, outro encontro foi relizado, desta vez na favela de Acari, para homenagear familiares e as "Mães de Acari", com exibição do filme "Luto como mãe".  Para terminar a sequência de manifestações, na segunda-feira, dia 26, ainda pela manhã, uma concentração foi feita em frente ao Hospital de Acari. Lá, se reuniram mães, familiares, moradores e defensores de direitos humanos. Logo depois, todos seguiram em caminhada pela Avenida Brasil até a favela de Vigário Geral.

Todos estes protestos foram feitos com a intenção de não deixar cair no esquecimento o que aconteceu nestas duas datas. A ideia é fazer com que a sociedade lute com estas mães para cobrar dos governantes soluções para tais casos. O objetivo também, é que outras mães não sofram o mesmo que elas.

As manifestações pacíficas tivram momentos de depoimentos e solidariedade.  Em todas elas tiveram representantes das mais variadas religiões. Um deles, o pastor luterano Mozart Noronha, dizia em alta voz em um dos atos: "Existe um descaso com a Segurança. Alguns policiais agem de maneira repressiva e truculenta, principalmente nas comunidades pobres". 

Patrícia Tolmasquim, uma das organizadoras do ato e membro da Comunidade Judaica, disse ainda: "A sociedade precisa de cura, não podemos achar que a dor é algo comum, a gente não pode reproduzir a dor". Edilene Francisco, tia de uma das vítimas da violência policial carioca relata, "Ele foi sequestrado de Guadalupe e levado pra Irajá. Lá ele foi assaltado, torturado e morto. E já se passou um ano e nada foi feito para punir o s culpados".

O ministro anglicano Igor Lazari desabafa, "Hoje experimentamos no Rio de Janeiro, uma política desumana. Após, 17 anos da Chacina da Candelária, e de 20 anos de desaparecimento daqueles onze jovens em Acari, ainda há aumento da truculência da polícia.  E a gente sabe que do governo não se pode esperar defesa dos Direitos Humanos", conclui.

Relembre os casos

Chacina da Candelária

Na madrugada de 23 de julho de 1993, oito moradores de rua (adolescentes em sua maioria) foram assassinados por policiais militares, e civis que pertenciam a um grupo de extermínio.  As vítimas dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. O motivo do crime ainda é desconhecido. Entre os sobreviventes há dois casos especiais. O de Wagner dos Santos que teve que se mudar para a Suíça após sofrer atentado, e o outro é o Sandro Barbosa do Nascimento, que sequestrou a linha de ônibus 174 em 12 de junho de 2000. Sendo morto depois que foi capturado pela polícia. Sete pessoas foram indiciadas pela chacina e apenas três foram condenados.


Desaparecimento dos jovens de Acari

Onze pessoas  (jovens eram em maior número), estavam em um sítio em Magé no dia 26 de julho de 1990.  Foram abordados por supostos policiais que exigiam dinheiro, pois acreditavam que o grupo realizava roubo de cargas de caminhão. Segundo dona Laudicena, já falecida, após uma hora de tentativa de extorsão, todos foram levados do local e nunca mais foram encontrados. As mães das vítimas ficaram conhecidas como "Mães de Acari". Uma das mães, Edméia da Silva foi assassinada em julho de 1993. Ainda assim, o grupo luta para que os culpados sejam julgados.



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